Poemas
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha falsa e demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as hitórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Paságarda tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que quero
na cama que escolherei
Vou-me embora para Pasárgada.
Critica
O autor, Manuel Bandeira, imagina um local paralelo, o qual representa como uma idealização da realidade e lhe proporciona felicidade. Na utopia que a sua mente cria, cruzam-se aventura, antigo e moderno.
Como qualquer utopia, a existência permite-lhe a justaposição de questões mundanas (o deitar-se com uma mulher, o impedimento da conceção), o prazer de nada fazer (deitam-se á beira do rio), recordar alegres momentos de infância (quando rosa lhe contava histórias), o exercício por prazer e não por obrigação; o conforto da tecnologia (“telefone automático, alcaloide á vontade”).
Rafael Santos
VELHA CHÁCARA
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinqüenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
- Mas o menino ainda existe.
Critica
O que conseguimos interpretar é que o sujeito poético procurava uma casa mas, em vez disso,encontrou um riacho.
Ele procurou esse lugar durante 50 anos não encontrou o lugar pretendido mas dentro dele ainda existe a pequena criança que estava naquele lugar daquele dia que encontrou o riacho
Eloi Rodrigues
TU QUE ME DESTE O TEU CUIDADO...
Tu que me deste o teu carinho
E que me deste o teu cuidado,
Acolhe ao peito, como o ninho
Acolhe ao pássaro cansado,
O meu desejo incontentado.
Há longos anos ele arqueja
Em aflitiva escuridão.
Sê compassiva e benfazeja.
Dá-lhe o melhor que ele deseja:
Teu grave e meigo coração.
Sê compassiva. Se algum dia
Te vier do pobre agravo e mágoa,
Atende à sua dor sombria:
Perdoa o mal que desvaria
E traz os olhos rasos de água.
Não te retires ofendida.
Pensa que nesse grito vem
O mal de toda a sua vida:
Ternura inquieta e malferida
Que, antes, não dei nunca a ninguém.
E foi melhor nunca ter dado:
Em te pungido algum espinho,
Cinge-a ao teu peito angustiado.
E sentirás o meu carinho.
E setirás o meu cuidado.
Crítica
Pela leitura cuidada do poema “Tu que me deste o teu cuidado…”, fiz a seguinte interpretação:
O sujeito poético fala de uma pessoa, que cuidou dele durante a sua infância e lhe deu carinho e conforto nos piores momentos. Com a idade e com as contrariedades da vida, essa pessoa tornou-se menos sensível.
Então o sujeito poético aconselha-a a ter compaixão dos que a ofendem e a perdoar sempre, embora isso lhe possa causar tristeza.
O sujeito poético revela-lhe ainda que, apesar da sua irrequietude, sempre gostou dela mais do que ninguém. Por isso, sugere-lhe que guarde no seu peito essa grande amizade, a qual poderá servir de consolo e ânimo ao seu coração “vazio”.
Penso que a pessoa a quem o sujeito poético se refere, ou é a um familiar ou a um amigo muito próximo.
Gonçalo
O Bicho
VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Texto Criativo
O mundo e tão rico e ao mesmo tempo tão pobre, e como tudo poderia ser mais equilibrado! Um mundo onde existe a ganância o luxo, que levam á degradação humana, obrigando o homem a colocar-se ao nível dos animais.
Até que ponto e que nos faz falta um euro?
Um euro para ajudar uma causa humanitária ou até mesmo para um sem abrigo, quantas vezes somos abordados no metro, autocarro e sabemos que temos uma simples moeda e não a dispensamos para quem tem fome. Uns não dão porque nao podem, já outros não dão porque estão demasiado preocupados a pensar na vida de negócios ou em assuntos egocêntricos comparados com a fome o desespero que passa “O Bicho” como diz Manuel Bandeira.
O que faz a humanidade perante a degradação que presencia?
Opta pela intervenção ou pela apatia?